sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Coragem! [40]

Os dias que se seguiram foram muito ocupados para o Miguel e aquela nossa conversa madrugada dentro, parece que ficou selada no tempo, esquecida, pois em nenhum momento voltamos a ela. O Miguel havia dito que queria curar a ferida, talvez o silêncio fizesse parte do “tratamento”, talvez, eu não sabia.
O dia da inauguração da exposição estava quase a acontecer, eu aproveitei bastante para descansar, passear, pensar em mim, na minha vida e em tudo o que ela se tinha transformado. O Paulo…Pois, tinha prometido ao Paulo tratar das coisas quando voltasse de Londres, não ia dar para continuar a adiar e a minha resposta não poderia ser outra senão aceitar a transferência dos bens da avó Filipa para meu nome, mas ainda assim, continuo a achar que tem que haver uma solução um pouco diferente, não sei porquê, mas continuo com esta cá dentro…

Naquela tarde, véspera da inauguração, acompanhei o Miguel. Estava tudo perfeito, no entanto, o Miguel, super perfeccionista lá ia ainda dando um toque aqui e outro ali. Ele estava feliz, sentia isso nas suas gargalhadas, no seu olhar com luz e na paz que pressentia junto dele! Apeteceu-me perguntar-lhe se estava tudo bem, mas preferi não o fazer. No entanto, e apesar da agitação e emoção ele queria falar…
- Yara! Estou feliz. Já há muito tempo que não conseguia dizer isto. Mas, estou. Amanhã é a inauguração. Esperei muitos anos por este dia e para mim vai ser fantástico.
- Que bom Miguel! Eu também estou muito feliz!
- Eu sei que a Maggie vai aparecer. Eu sei isso. Mas, para além de todas as emoções que esse encontro possivelmente me fará despontar, eu sinto-me em paz. A Maggie fez parte do passado e é lá que ela deve permanecer.
- Sim, Miguel…Tu é que sabes…O passado nunca volta. Ficou lá, por mais voltas que se dê, não se consegue voltar lá…Tens que aprender a lidar com o passado no presente...
- Sim...Mas isso é tão difícil.
- Pois é Miguel. Porque temos que dar uma grande pedrada no passado, desmoronar com as nossas próprias mãos os nossos sonhos, arrancar de nós o amor, ou a pessoa que amamos...
- "o amor, ou a pessoa que amamos..." podemos escolher?
- Talvez, Miguel. Mas, não é fácil...Eu optei por arrancar o amor e atrás dele foi a pessoa que amei um dia, desabitaram o meu coração, os meus pensamentos e eu senti-me aliviada. Mais até... Senti-me imune. Geralmente apaixonamo-nos sempre pela pessoa errada. Essa paixão sufoca-nos de tal maneira que pensamos que a pessoa é um anjo, quando afinal é uma pessoa cheia de defeitos e que fora da paixão não tem nada para nos dar.
- Ai, Yara. Tu pões as coisas de uma maneira, que tudo parece fácil.
- Pois. Compreendo-te. Tornei-me fria, muito fria nestas questões...
- Mas, és uma pessoa que se preocupa com todos. Olha o que fizeste pelo Paulo, por exemplo.
- Voltaria a fazer, Miguel, pelo Paulo, por ti, por quem fosse. Podes chamar-lhe amor direccionado, amor humanizado. Só não lhe chames apenas amor. Porque esse já foi embora...
- Não digas isso. És jovem ainda. Podes muito bem apaixonar-te por alguém especial...
- Hummm, não me parece querido Miguel. Sinto-me noutra dimensão, mas nem tenho muito bem palavras para te explicar.
- Ficava aqui o dia todo a falar contigo! Mas, agora vamos tomar um chá. São quase cinco horas.
- Boa!
E fomos. O Miguel continuava a sorrir. Apesar de estar apreensivo com o encontro com a Maggie, estava feliz

E eu ia-me aos poucos despedindo de Londres e do Miguel. Ele ia ficar pelo menos um mês, que seria o tempo em que decorreria a exposição.

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