terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Conversando com Miguel [39]

Miguel era um jovem corajoso. Estava realmente a tentar. No entanto, do fundo dos seus olhos azuis eu vi que o amor por Maggie continuava tão forte como no primeiro dia. Conhecia bem aquele olhar...Mas, fingi que não via.

Nessa noite o Miguel não dormiu. Leventei-me a meio da noite e vi a luz que vinha do seu quarto. Ele pressentiu-me lá fora e veio ter comigo:
- Yara! Também estás com insónias?
- Não! Acordei com sede. Porquê? Tu estás com insónias?
- Eu? Não que idéia!
- Miguel! Não digas nada, está bem?
- Yara! Podemos falar?
- Sim! Podemos...


Conversamos. Bebemos vinho. Mas as palavras rodaram sempre em volta de si. Como num labirito, sem encontrar saída. Eu ouvia o Miguel. Primeiro ele dizia o quer deveria ser dito. Eu fazia uma "cara esquisita", como que dizendo - Será que é mesmo isso? -  E ele recuava, emendava.. "Deveria ser assim", mas o que eu sinto...Ás vezes ria, um pouco nervoso. Depois ficava longos momentos em silêncio, como que tentando encontrar as respostas no fundo dos meus olhos, nas minhas mãos, ou então até no mais profundo de mim...
E eu arriscava...
- Então Miguel?
- Yara! Não encontro solução. estou perdido...
- Não estás nada! Sê forte! Tu vais conseguir!!
- Achas? Tu já esqueceste o Jorge?
Eu ri. Achei graça!
- Sabes Miguel. Nós nunca esquecemos as pessoas. simplesmente elas passam a ter um papel diferente nas nossas vidas.
- Como assim? e como se consegue isso?
- O Jorge para mim, primeiro foi um amigo. Depois foi um amor impossível. Mais tarde um fugitivo. E hoje... É uma pessoa perdida no meio da multidão (para não voltar a ser novamente um fugitivo). Se nunca mais o encontrar, eu não me importo, acredita. Eu estou bem assim. Ele escolheu e eu apenas me adaptei a essa escolha. Porque, no meu coração quem manda sou eu, e mais ninguém! Decidi isso há muito tempo atrás e descobri que essa é a única forma de não nos magoarem, entendes?
- Entendo...e não entendo... Dói, Yara...
- Pois, dói Miguel. mas, depois passa. É como uma ferida, que vai passando, ainda que deixe marcas, já não são as do primeiro dia.

Eu não estava a ajudar nada, parece que o Miguel queria voltar para a Maggie. Mas, era um querer e um não querer que mal se consguia notar a linha que os separava...

- Miguel, só está uma questão em jogo... Queres volttar para a Maggie? Só tens que responder a isto, lá no fundo do teu coração. O resto esquece. Concentra-te nesta questão. sabes bem que os exemplos de vida dos outros não nos servem de nada. Sabes isso, não sabes?
- Sei Yara. mas eu não posso voltar para a Maggie. Estaria sempre no meu coração o fantasma...Quando é que ela volta a fazer o mesmo?
- Isso é uma decisão?
- É. Agora só preciso de curar a ferida...
- Então sê forte. tenho a certeza que vais conseguir!


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