terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em paz... [38]

Aquela primeira noite em Londres teve para mim um perfume incomparável. Da varanda do meu quarto fiquei horas perdida em mim, contemplando aquele mar de luz que se estendia ante os meus olhos. Eu estava serena, embalada numa paz que me apaziguava. De vez em quando vinha-me á lembrança, o Paulo, o Jorge, e outras lembranças, que ali perdiam rapidamente a cor. Eu estava ali e parecia que era proibido qualquer inquietação…


E com a noite veio o dia. E uma alegria com sabor a paz pairava no ar. Prontifiquei-me para acompanhar o Miguel até ao sítio onde ia decorrer a exposição. Ele não queria, mas eu fiz questão. E com foi bom voltar de novo a percorrer as ruas da maravilhosa Londres. Os seus monumentos impecavelmente conservados, os autocarros vermelhos, os táxis pretos... Esta cidade inspira-me!

Chegados á galeria, senti-me inundar por todas aquelas telas…O Miguel eram de facto um grande artista. Ajudei-o a pendurar algumas obras, mas depois achei que aquele momento era dele. Certamente queria ficar a só. Por isso expliquei-lhe que aproveitava para dar umas voltas.



E fui. Caminhando sozinha, rostos anónimos perdidos na multidão que passava agitada, rostos pesados e eu sentia-me mais leve que nunca. Desprendida de tudo. Caminhei muito tempo, sem rumo, deixando-me ir, embalada pela brisa que corria e me afagava os cabelos e me lembrava o meu mar…


E a noite foi caindo… Jantamos com os pais do Miguel. Um jantar ameno, de família. Mas a determinada altura Betty fez uma revelação:
- Sabes Miguel…ainda não te tinha dito…A Maggie voltou há uns meses…sozinha. Veio falar comigo, pedir desculpa e disse-me que ainda te ama…
 O Miguel ficou pálido, mas com ar determinado arriscou:
- A vida tem dessas coisas mãe… Mas a Maggie não faz parte dos meus planos. Tenho planos maiores para mim!
Olhamos uns para os outros, com alguma admiração… E eu, no fundo de mim, sorri…O Miguel estava pelo menos a tentar…

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