segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O amor...[26]





“Yara, o amor permanece, e a distância dos anos não o fez perder-se, pelo contrário aumentou, revisitei-o em cada ida á “nossa rocha”...

Aquelas palavras ficaram vários dias a tilintar na minha cabeça, porque é que de repente toda a gente me queria falar de amor? Mas eu não queria, o meu coração estava tão fechado que não se conseguiria abrir, e eu não queria…

Os dias no hospital foram passando muito lentamente, sempre imensa gente de volta de mim, havia sempre coisas para fazer. Parecia que eu era a única paciente daquele hospital e então todos ficavam de volta de mim. De repente parecia-me que todas as cores tinham saído do mundo e só tinha ficado o branco, tudo era branco… As paredes, as roupas dos médicos dos enfermeiros, os lençóis…eu só via branco. Já não estava ligada a nada e já comia. Da casa de banho tiraram estrategicamente o espelho, e eu ainda não tinha visto o meu rosto. Penso, que esperavam deixar passar mais algum tempo, para as coisas se recomporem. Eu aceitei isso com naturalidade, e deixei de fazer perguntas.

A minha mãe ausentou-se um dia para tratar de assuntos, mas nem nessa noite fiquei sozinha, a meio da noite quando acordei lá estava no cadeirão, o Jorge...Estranho…Ele nem estava de serviço…Fiquei a olha-lo muito tempo…Ele foi a pessoa que me ajudou a superar um momento difícil da minha vida, éramos imensamente amigos, até ao dia em que estragamos tudo com a porcaria do amor. Passaram-se tantos anos…quantos? Não me lembrava… Lembrava-me sim do quanto sofri por esse amor impossível…Sabia sim, que foi por causa desse amor, que fechei o meu coração a sete chaves e que não admitia que ninguém o voltasse a abrir. O Jorge continuava igual, era uns bons anos mais velho que eu, mas era um homem lindo, tinha uns olhos da cor do meu mar e um sorriso que me abraçava, e tinha ainda uma coisa fantástica…Um coração maravilhoso. Mas ainda assim, eu não queria outra coisa que não fosse a nossa amizade de volta. Apeteceu-me levantar e ir lá dizer-lhe isso, mas não era a hora, nem o momento, e adormeci embalada nesta verdade…

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