terça-feira, 14 de setembro de 2010

De saída...[27]

Finalmente chegou o dia de sair do hospital.

eu ainda estava débil, mas já ficaria bem em casa, de repouso absoluto pelo menos durante uma semana. Foi essa a indicação do médico. Depois devagarinho e aos poucos retomar a vida normal. Mas antes de sair, veio alguém falar comigo, era uma jovem simpática, trazia na mão um espelho, foi a primeira coisa que vi. Pediu a todos para saírem, queria ficar a sós comigo. E assim foi.Esticou-me a mão e disse que era a Drª Sílvia, psicóloga. Mas, eu adiantei-me a ela...
- Ah! Muito bem Drª vem dizer-me que o meu rosto esta completamente desfigurado, mas que isso pouco importa, o que importa é o que vai no coração etc etc etc...Eu sei isso!
- Calma Yara! O teu rosto está um pouco maltratado, e sei que ainda não o viste, mas agora vais vê-lo, e o que vires agora não é o que verás daqui a uma semana, ou daqui a um mês, tu sabes isso!
 - Sim eu sei. Os hematomas vão mudando de cor, nesta altura imagino que estejam roxos...por aí, daqui a uma semana já estarão amarelados e depois desaparecem, já as cicatrizes...
 - Muito bem, Yara! Já as cicatrizes...pois, poderás fazer uma plástica daqui a uns anos se achares necessário.. Estás então preparada, verdade?
 - Sim, Drª vamos lá então!

A Drª Sílvia colocou o espelho em frente a mim. Eu olhei. Era horrível, sim era horrível... Mas não chorei fui forte, olhei no fundo dos meus olhos e vi neles uma paz imensa.E sorri enquanto baixava o espelho...
 - Está feito Drª...Daqui a uma semana estará melhor! Agora só quero sair deste mundo branco e ir ao encontro do meu mar! 
 - Vai lá então Yara! És uma lutadora. O teu nome combina muito bem contigo! Se precisares de alguma coisa já sabes!
 - Agradeço-lhe!
Todos vieram despedir-se. Incluindo o Manuel que prometeu visitar-me! Mas eu não podia deixar o hospital sem ir ver o Álvaro, e fui...

Cheguei perto dele e ele começou a chorar...
 - Minha querida Yara, peço-te imensa desculpa pelo que aconteceu...
 - Mas, Álvaro...foi um acidente, lembraste?
 - Eu sei, eu sei, mas eu não me perdoo. Trata de ti menina e depois não te esqueças do meu Paulo, prometes?
 - Sim, Álvaro fica descansado. Ah! e põe-te bom depressa, tá?
 - Ai, menina...Já não saio daqui vivo...
 - Que ideia! Nada dessas conversas. Vais ficar bom sim!
 - Tu mandas...
Despedimo-nos e encaminhei-me para a saída. Ia finalmente deixar aquele mundo branco, aquele cheiro que me transtornava as ideias. Lá fora o sol de inverno dava um ar da sua graça, e eu nem o conseguia suportar nos olhos, mas senti-me aliviada por estar de novo em "liberdade".

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