sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Inexplicavelmente... [22]




A manhã ensolarada de inverno convidava a um passeio á beira-mar; fui, aquele cheiro inebriante do mar fazia-me bem, aclarava-me as ideias, e o único som envolvente, o do mar, acalmava-me as emoções. Caminhei devagar, sem pressa, e fui pensando em tudo o que se tinha transformado a minha vida, de um dia para o outro, mas sentia-me bem, se fosse hoje voltaria a fazer tudo na mesma, essa era uma das grandes certezas, a outra, era que apesar de me sentir tocada pelo Paulo, não queria nenhum envolvimento sentimental com ele, não queria porque não sei viver disso, esse amor colorido depressa perde a cor e depois, esse amor faz sofrer muito, cria feridas muito difíceis de cicatrizar, já tinha tido essa experiência e não queria voltar a repetir, sei que as pessoas dizem - Não podemos mandar no coração - eu não concordo, podemos mandar em tudo, e também no coração, eu pelo menos mando no meu, nem que isso implique mais sofrimento, mas mando, sempre mandei, desde o dia que provei o sabor amargo do amor. Gostaria de Ter um filho, mas eu vou Ter esse filho, quando chegar a altura, agora é tempo de viver a aventura da vida e quem sabe de realizar um dos meus sonhos...

Soube-me tão bem aquele passeio à beira-mar, sentia-me analisada, renovada, com uma tranquilidade infinitas…
Voltei para casa, para o trabalho, mas foi por pouco tempo, porque alguém batia à porta…
- Olá Yara, como vais?
- Bem, e tu Álvaro?
- Estou bem, precisava falar contigo. Talvez estejas ocupada, posso voltar noutra hora…
- Não, podemos falar, passa-se alguma coisa?
- Não, está descansada, são coisas minhas…Olha, o Paulo falou comigo, sobre os bens
da avó Filipa, sabes, eu tenho um filho de ouro, apesar de tudo, sempre pensei que ele tivesse gasto o dinheiro que a minha sogra lhe confiou, afinal não, até chorei quando ele me falou do dinheiro e dos bens, e venho dizer-te que fico muito feliz com a escolha do Paulo…
- Escolha? Que escolha?
- Calma…O Paulo disse que iria passar tudo para teu nome…
- Mas…eu não concordo com isso…eu não tenho nada com o Paulo, apenas somos amigos.
- Eu sei Yara, o Paulo já me explicou tudo, ele sabe que é assim e eu também, mas isso não muda nada, sei que vais administrar tudo muito bem, se for necessário eu dou uma ajuda, mas o advogado do Paulo é um rapaz muito activo, vais gostar de trabalhar com ele este assunto.
- Mas, Álvaro…eu ainda não pensei definitivamente no assunto, tenho andado muito ocupada com o meu trabalho e dentro de algum tempo irei à Grécia com os meus “sócios”, talvez só quando voltar, tenho imensa coisa para fazer…
- Está bem, será como tu queiras! Mas, olha, vim também convidar-te para ires almoçar connosco, comigo e com a Maria, aceitas?
- Ah! Não tenho carro, foi fazer uma revisão, ficaram de trazer no final da tarde…
- Não há problema, eu levo-te e depois trago-te!
- Então aceito! Tenho saudades da Maria!
- Ela não sabe que o convidado especial és tu, será uma surpresa!
- Muito bem! Vamos então!

Saímos de casa, no entanto havia a sensação em mim de que me faltava qualquer coisa, não sabia muito bem explicar o quê, procurei na carteira, mas estava lá tudo, devia ser só uma sensação e partimos, a viagem decorreu calmamente, íamos falando, e eu ia pensando o quanto o Álvaro estava diferente, no rádio cantava o Pedro Abrunhosa… Se eu fosse um dia o teu olhar…sentia-me feliz por ir abraçar de novo a Maria…
Mas, eis que de repente, inexplicavelmente o carro embateu em algo, e apenas um pensamento me ocorreu …vou morrer…

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