sábado, 18 de setembro de 2010

O tempo...[33]


O tempo não pára mesmo que dentro de nós às vezes pareça não avançar. Não suporto quando as pessoas fogem, e o Jorge estava nitidamente a fugir…Mais uma vez. A esfumar-se na atmosfera. Para onde teria ido? Dentro de mim isso fazia-me confusão, muita confusão…Sempre, ao longo da minha vida soube separar e gerir as minhas emoções, os meus sentimentos e nunca tive necessidade de cortar um relacionamento com ninguém, mas o Jorge disse que não podia ser meu amigo porque me amava…Mas, eu também não podia modificar os outros, só a mim, e mesmo a mim, só como tentativa. Tinha no entanto a certeza de que o amor de há tantos anos passados estava morto e isso alegrava-me, pois o meu coração não suporta essas amarras doentias do amor, ou do que chamam amor…






Agarrei-me afincadamente ao trabalho, como habitualmente, mas desta vez, como escape. Não tinha mãos nem cabeça a medir, estava constantemente ocupada, o que era óptimo, assim não tinha tempo para pensar e também porque não queria, não valia a pena. O Jorge tinha deixado de existir, e era isso que no meu coração eu ia alimentando, apesar de não concordar. Mas, quem sou eu para concordar com o que vai no coração e na cabeça dos outros? Sou e quero continuar a ser muito pequenina.
E foi numa dessas tardes de trabalho que bateram à porta, uma pancada leve, parecia de menino… E eu fui abrir… era o Miguel, há tanto tempo que não nos víamos e ele reclamou:
- Yara! Que é feito de ti, já nem vais ver “o teu mar”…
- …
As palavras não me saíam… “o teu mar”…pareceu-me uma recordação distante, e eu podia vê-lo da janela…
- Que se passa Yara? Estás bem?
 - Estou…Mais ou menos…Mas, entra.
- Não. Tu é que vais sair!
- Vou?
- Sim. Preparei um piquenique!
Eu esbocei um sorriso. Tão querido o Miguel. Sempre atento. E fomos para junto do “meu mar”. Eu não queria, o meu coração não queria, mas a verdade é que eu estava frágil, e diante do “meu mar” eu sentia-me ainda mais frágil. Mas, também sabia que seria ali que poderia ficar mais forte. E entreguei-me sem medo á presença do mar e com alegria ao piquenique que o Miguel tinha preparado. Foi um momento que me fez muito bem, descontrai, ri e sentia-me bem.  
A determinada altura o Miguel quis explicar o porquê do piquenique…
 - Yara, este piquenique é uma forma de te dizer que gosto muito de ti. És uma grande amiga! Foi também a forma que encontrei para te dizer até já…
- Também vais embora?
- Vou. Mas, volto!
- Ah! Ainda bem…
- Pois, Yara, o verão está a chegar e vou para Londres, visitar a minha família…
- O quê??? Verão...já?
- Calma, Yara, está quase, mas ainda falta um tempinho, no entanto vou agora, porque durante o verão não posso ir, fico por cá, é na altura que ganho algum dinheiro. E também porque consegui uma exposição por lá...
- Ah!, Pois, compreendo...
Tinha-me isolado e mergulhado a fundo no trabalho que nem tinha dado pelo tempo a passar, e o verão estava à porta, e eu noutra galáxia…Era altura de voltar à terra … E olhava o vasto areal deserto, que em breve ia ser inundado por todos os veraneantes....
Eu olhava fixamente o mar, procurando nem eu sei bem o quê, e o Miguel interpela-me:
 - Yara! E se viesses comigo?
Ir com o Miguel a Londres... Acho que nem pensei muito bem, a resposta veio prontamente:
 - Boa! Vou contigo!!
o Miguel abraçou-me, muito contente e eu também fiquei...Rimos e delineamos a partida...

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