sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Porquê? [31]



O tempo foi passando, e eu sentia-me cada vez mais forte. Tinha retomado o meu trabalho e andava nesta altura completamente absorvida nele, embora houvesse espaço para as visitas á prisão. O Paulo estava bem, sentia isso nas suas palavras seguras, no seu olhar calmo e no seu coração, que era da cor do céu! Eu estava prestes a tomar uma decisão em relação á proposta do Paulo acerca dos bens, já me tinha reunido algumas vezes com o seu advogado, o Rafael, e ele tinha-me aconselhado a seguir em frente, pelo Paulo. No entanto eu não queria assumir as coisas, sozinha, por isso ia arquitectando as minhas ideias. O Álvaro continuava no hospital ao fim de dois meses. Visitava-o também com alguma regularidade e também ele sempre me pedia para fazer a vontade ao Paulo…

Tudo caminhava normalmente. O Miguel, o pintor, ajudou-me imenso nos primeiros tempos, nomeadamente com a condução, na qual não me sentia muito á vontade, pois fiquei imenso tempo com visão dupla, ou como os médicos lhe chamavam diplopia, o que era um caos para conduzir. Nesta altura já não tenho e estou cada vez mais independente e dona de mim, o que me agrada imenso.

Numa dessas manhãs enquanto eu estava absorta no trabalho, recebo um telefonema inesperado, era o Jorge.

 - Yara Bom dia!
 - Bom dia Jorge, como vais?
 - Vou embora.
 - Sim? Assim de repente? Porquê?
 - Não, não foi de repente. Já se passou algum tempo e vejo que tu hoje tens outros projectos para ti, e eu não consigo ficar a teu lado fingindo que sou o teu amigo e que não se passa nada…
 - Mas, que conversa é esta?
 - Ainda te amo. Não te consegui esquecer. Por isso parto, não me perguntes para onde…
 - E vamo-nos falar?
 - Não, Yara…é um adeus definitivo. Adeus…
E desligou…

Fiquei com o telemóvel nas mãos…Fiquei muda…Fiquei transtornada… Porque é que tudo tem que ser tão radical? Era a segunda vez que o Manuel partia. Que se afastava de mim…
Como é que era possível que ele mantivesse aquele amor?
Não tinha resposta para tanta pergunta que ia em mim. Não tinha solução para nada. Tinha o Jorgel por um amigo e ele não podia ser meu amigo porque me amava…



Encaminhei-me para o meu mar e ali me sentei a chorar, deitei-me na areia que me acolhia e penso que adormeci...

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