sábado, 18 de setembro de 2010

Despedidas... [34]



Dentro de cinco dias partia para Londres com o Miguel. Ele ficou de tratar das passagens, porque eu tinha imensa coisa para tratar. Algumas resolveria com um simples telefonema, mas noutros casos, era necessário ir, estar com as pessoas.

Por isso no primeiro dia fui à prisão, tinha de estar com o Paulo. As minhas visitas à prisão eram muito constantes, por ali toda a gente me conhecia, e eu acabava por me sentir ali bem, por estranho que pareça. O Paulo estava bem, muito dedicado aos estudos, estava quase a concluir o último ano de medicina. O seu comportamento tinha sido exemplar, não devia tardar muito e sairia da prisão, ainda que em liberdade condicional. Quando chegou perto de mim, os seus olhos sorriram antes dele, deu-me um abraço enorme e ia dizendo… “saudades tuas…”
 - Paulo, estive aqui a semana passada…
- Eu sei, mas, tinha saudades, que queres?
 - Olha, vou sair uns dias…
- Ah! Vais a casa dos papás…
- Não. Vou a Londres.
- Trabalho?
- Não, Paulinho. Vou passear. Vou divertir-me…
- Sozinha?
- Também não. Vou com o Miguel. Ele convidou-me.
Paulo ficou triste nesse momento, senti no seu olhar, na expressão do seu corpo. Queria falar, mas não falava, ia engolindo em seco…
- Então, Paulo? Eu volto, está descansado. Quando estiveres em liberdade também vou passear contigo, prometo!
- Prometes? E onde queres ir?
Eu ri. Parece que era coisa para já.
- Então, tu é que me convidas, tu é que sabes onde queres ir!
E rimos os dois! Mas, Paulo voltou ao que o entristeceu…
- Mas…Porquê o Miguel?
- O Miguel, por nada, somos amigos e ele convidou-me. E, mais nada, ok?
- Desculpa Yara. Não tenho nada que estar com cobranças. Desculpa.
- Tudo bem! Parto na próxima sexta-feira e estarei fora duas semanas.
- Está bem Yara! Sabes que te adoro… Espero por ti aqui, não irei a lado nenhum.
- Ok, Paulinho! Agora tenho que ir, mas ainda nos falamos, sim?
- Sim, claro, eu ligo-te. Entretanto vou estar ocupadíssimo com os estudos, está quase Yara! Ah! Quando voltares tens que reunir com o Rodrigo, o meu advogado, ele tem tudo pronto para assinares e tens que começar a trabalhar no assunto…
- Está bem, Paulinho! Veremos isso quando eu voltar.
- Ah! Não me esquecerei da tua promessa…
- Promessa?
 - Sim, do passeio comigo…
- Tu és demais! Está bem, iremos passear e tu escolhes o destino!
Saí da prisão tranquila, o Paulo apesar dos ciúmes (infundados) estava bem. Iríamos passear sim, isso era o mínimo, custa-me imenso vê-lo ali, mas agora tem que ser…
Dirigi-me de imediato para casa do Paulo. O Álvaro já se encontrava em casa, apesar de preso a cadeira de rodas. Estive com eles, com o Álvaro e com a Maria. A debilidade do Álvaro tinha fortalecido a relação deles, é pena que as relações dependam destas coisas, mas o Álvaro agora já não era o prepotente, o senhor de tudo e de todos e Maria, a doce Maria, sempre pronta para servir o seu senhor…
Falei-lhes da visita ao Paulo e da minha ida a Londres:
 - Vai Yara! E descansa, trabalhas demais… - Dizia-me Maria
Bebemos um café… recusei (gentilmente) o convite para almoçar, pois tinha imensas coisas para fazer. Eles entenderam. Despediram-se de mim, como se eu fosse a filha deles. Tanta ternura, enternecia-me!
Próxima paragem… Igreja. Parei ali nem sei bem porquê. Mas, já que tinha parado, ia entrar. Possivelmente o padre António nem estava por lá. Mas, quando entrei ele encaminhava-se para a saída e feliz de me encontrar:
 - Yara! Por aqui? Há imenso tempo que não te via. Que tens feito? Olha anda almoçar comigo, que hoje não tenho companhia.
- Ah! Não quero incomodar.
 - Mas, não incomodas nada. Vamos aqui em frente.



E fomos. O almoço decorreu muito bem. Rimos, conversamos e a determinada altura, o António olhou fixamente para mim e:
 - Yara! Sabes que o Paulo te ama? Sabes isso?
- Mais ou menos, mas porquê?
- E tu, o que sentes por ele? Diz-me, podes?
 - Sim! Claro! Sou amiga do Paulo, nada mais, então?
- Gostava de vos casar. O Paulo gosta muito de ti. Acho que ia dar certo…
- António, por favor…Não me conheces. Eu não quero nada com o amor… o amor não é coisa boa; eu sei o que digo.
 - Não digas isso, então?
- Digo, sim! Porque é a verdade!
- Então, se é verdade…Nós somos pela verdade, certo?
Pela verdade! Contra ventos e marés. Contra tudo…Mas, sempre pela verdade. Eu, Yara fugitiva do amor e amante da verdade...

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