segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A 1ª visita à prisão...[14]



Acordei naquela manhã cheia de energia e de ideias. O sol despontava, e eu sentia-me forte. Sai de casa e fui caminhar à beira-mar, tinha que tomar algumas decisões e tal como os pescadores, também queria que elas ficassem escritas no mar…
Caminhei durante muito tempo. Estava serena e pronta para começar a por em prática tudo o que havia decidido.
De tarde ia à prisão visitar o Paulo, não podia esperar mais tempo, tinha que ir, apesar de ele me ter recomendado que fosse apenas quando ele dissesse. Eu sou adulta e sei muito bem cuidar de mim, por outro lado desde que o Paulo foi preso, nunca me senti tão forte como hoje, e também porque teria que me ausentar uns dias, afinal ia prolongar por uns tempos a minha estadia na casa da praia. Teria que ir a casa buscar as minhas coisas, e pôr outras a andar, já sabia de antemão que a minha família não iria entender, mas eu entendia e isso chegava.


Depois de almoço, parti em direcção à prisão, ia bastante serena até chegar lá, depois e de repente parece que toda a minha força começou a desmoronar, mas não ia desistir, e avancei. Aquele tempo em que o Paulo chegava e não chegava pareceram-me séculos. O meu corpo começava a tremer, até que avistei o Paulo. Vinha a sorrir, ladeado por um guarda; e eu fiquei pregada ao chão, querendo mover-me e o meu corpo não reagia, até que o Paulo chegou perto de mim:
- Yara!



Abraçou-me e eu comecei a chorar, então o Paulo pegou-me com as mãos na nuca e encostou a sua cabeça à minha, e ia-me dizendo:
- Sossega, sossega, o pior já passou, o pior foi o ano que eu passei na rua, agora estou a caminhar em direcção à liberdade, e tu vais-me ajudar, nem imaginas a felicidade que eu senti quando vi que eras tu a minha visita. Obrigado, é pouco para te agradecer, não tenho palavras…
- Desculpa, mas não sei o que me deu…sentamo-nos?
- Claro! Tenho imensas coisas para falar contigo; o meu pai disse-me que já te avisou da situação da pena...
- Ah! sim ele foi logo lá depois do julgamento. Fiquei mais sossegada.
- Pronto, então não te preocupes, vai correr tudo bem! Entretanto e para não estarmos aqui a falar deste assunto, e porque ele é um bocado demorado, escrevi tudo aqui, vais levar contigo.  Lês e pensas, sem pressa; o meu plano futuro, como médico, talvez ainda demore algum tempo, mas a vontade da minha avó Filipa, tens que me ajudar a realizar o quanto antes.
- Eu?
- Sim, Yara, em ti sei que posso confiar inteiramente, como tu confiaste em mim, quando me abriste a porta da tua casa e me acolheste como se me conhecesses desde sempre. Pensaste que eu era um mendigo, depois soubeste que eu era um fora da lei, e nunca nada fez qualquer diferença para ti, amo-te Yara, tu és um anjo…
- Ai! Paulo não sei nada do que estás a falar, nem do que me queres confiar, por favor tem calma, haverá outras pessoas tuas amigas. Os teus pais…
- Sossega, não sei porquê, mas acho que a vontade da minha avó Filipa tem a tua cara, ela era assim como tu, uma guerreira, e eu era o seu único neto; quanto ao meu pai…que lhe fizeste? Num dia chega aqui e diz “raios e coriscos” de ti, sem te conhecer sequer, no dia seguinte parecia uma outra pessoa, até comigo, que aconteceu?
- Nada de especial, só lhe fiz uma pergunta…
- Qual?
- Se ele era feliz.
- E ele?
- Calou-se na altura, mas está diferente sim, e eu fico contente, por ele e pela tua mãe.
- A minha mãe é uma santa, nem sabes o que temos sofrido, mas deixemos estas coisas. Quero agradecer-te por teres estado ontem no tribunal, só te vi à saída embora soubesse que estavas lá.
- Eu sei que me viste, e adorei o teu sorriso, no meio daquela confusão toda. Agora tens que ser forte, Paulo, muito forte.
- Eu sei disso, está descansada, entretanto vou pedir ao meu advogado que me trate de pedir autorização para eu terminar o curso enquanto estiver aqui, assim aproveito.
- Óptimo, fico muito contente. Olha também vi hoje porque vou ter que sair uns dias, não muitos espero…
- Sair? Já?
- Tem calma. Eu vinha passar uns dias de férias aqui, entretanto as férias vão ter que ficar para outra altura…
- Ó pensei que ficasses mais tempo, mas … e os planos?
- Eu explico, vou buscar as minhas coisas, para poder trabalhar aqui, tenho projectos a meio, e pretendo ficar aqui mais tempo do que o inicialmente previsto…
- Ah! Que bom! Fico tão contente. Mas, espera, nunca me disseste o que fazes?
- Pois não, é verdade, mas digo-te agora, sou designer de interiores, trabalho por minha conta, por isso posso trabalhar em qualquer sítio, não gosto de criar raízes.
- Que bom, fico imensamente contente, e vais ter mais trabalhinho brevemente.
- Vou? Óptimo!
- Agora vou, já estamos aqui há imenso tempo e antes que te peçam para ir, é melhor ires.
- Sim! Obrigado pela surpresa, adorei! Eu vou ligando, e quando puderes volta, entretanto vou começar a estudar!
- Isso mesmo! Preparar hoje o futuro.
Despedimo-nos, olhamos ainda para trás com um sorriso e um adeus…

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