terça-feira, 3 de agosto de 2010

De volta a casa...[8]

Fiquei no alpendre até ao anoitecer, sentia-me bem, sentia-me forte, apesar de todos os disparates que tinha acabado de ouvir. Fiquei a pensar naquele encontro e no sofrimento que aquele homem devia gerar à sua volta e nele próprio…
Era hora de entrar, a casa estava fria e mergulhada em silêncio, acendi todas as luzes, como que procurando algo, mas tudo estava no seu lugar e o Paulo estava na prisão e não ali. Lembrei-me de repente do telemóvel, fui procura-lo. Encontrei-o. Liguei-o e entre muitos números havia um que se repetia várias vezes, era o Paulo, de certeza. Mas não adiantava eu ligar, havia mensagens e uma de voz. Ouvi, era o Paulo dizendo que estava bem e para eu ter cuidado com o pai dele. Eu ri, pois já tinha dominado a fera!
Eu estava a rir, eu estava descontraída, sentia-me forte e ia conseguir cuidar do Paulo.

Agora a lareira era a minha única companhia e o som da lenha a crepitar o único que ousava penetrar o silêncio. Ia pensando o motivo que me trouxe ali, que era passar uns dias em sossego comigo própria, mas tudo estáva modificado, teria que ir visitar o Paulo, e quando o poderia visitar? Teria que me preparar para o visitar, teria que lhe passar uma mensagem forte, que lhe desse confiança e força...
De repente lembrei-me da carta do Paulo, ainda a não tinha lido, pensava lê-la na praia, mas depois apareceu o Dr.Álvaro... Mas agora seria a altura. Procurei-a no casaco e lá estáva à minha espera. Prometi a mim própria independentemente do que estivesse escrito eu continuaria a minha missão de cuidar do Paulo.
Peguei-lhe, estava a custar-me abri-la, mas tinha que ser…

“Querida Yara,
Quando leres estas minhas palavras já não estarei aí contigo, estarei na prisão e muito feliz, feliz por te ter encontrado.
Vou aproveitar o tempo que ficar na prisão para estudar bastante, para quando sair terminar o meu curso, não te cheguei a dizer qual é, tu também não perguntaste, é medicina. Tenho planos, sempre os tive, mas agora ainda mais, o meu pai sempre pensou que eu ia ser um famoso médico, que ia ter consultórios espalhados pelo país e o meu nome a dourado numa placa, mas essa nunca foi a minha intenção, por isso querida Yara, espera por mim, gostava de trabalhar contigo, com o tempo te direi os meus planos! Talvez possamos até começar já a trabalhar (mesmo não sabendo nada de ti, nem dos teus planos…)

Pensaste que ia dizer que te amo?
Sim, querida, AMO-TE, mas isso não importa, li nos teus olhos que o teu coração é de guerreira e não se prende. O teu coração não suportaria ficar sufocado por uma única pessoa, o teu coração precisa de muitos corações, mas que nenhum te sufoque com as lamechices da paixão…No entanto, deixa-me dizer-te que perto de ti as palavras perdem o som, que o mundo acaba…Que como homem me foi difícil resistir, mas, para mim és Yara…um anjo que eu não ousaria tocar.
Conto contigo para cuidares de mim, a prisão será apenas um momento da minha vida, depois terei o tempo todo do mundo. E quero aprender a ser guerreiro como tu!

Um abraço e um beijo do teu amigo,

Paulo de Albuquerque


Li a carta, mais uma vez ou duas, quais seriam os planos do Paulo?
E o que medicina poderia ter a ver comigo?
Perguntas que me inquietavam…amanhã mesmo iria tentar falar com o Paulo…

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