quarta-feira, 25 de agosto de 2010

De volta! [19]



A manhã apareceu com um sol radioso que iluminava tudo, mas a manhã estava gélida, como quase todas as manhãs. Muita geada e algum gelo espalhado por aí ia-nos regelando também. Despedi-me da minha casa e dos meus pais:
- Virei brevemente, mas se não vier, estarei cá no Natal certamente!
- Deus queira! Contigo nunca se sabe... -
- Claro, em princípio estarei, depois logo se vê, não somos nós que mandamos em nada, vá beijinhos e xau!
- Tem cuidado contigo e vai dando notícias
- Assim farei! Cuidem-se!

E aí ia eu de novo em direcção à praia, ao meu mar e ao Paulo. Levava comigo imenso trabalho, muitas dúvidas existenciais e também muita esperança e uma serenidade que me fazia sentir tranquila...

A viagem decorreu normalmente, parei algumas vezes para descontrair e cheguei antes do almoço. O sol beijava o meu mar e o azul do céu reflectia-se no mar, as gaivotas esvoaçam e o mar abraçava-me, envolvia-me eu feliz rodopiava em mim, ali não havia nada, nem carros, nem pessoas, eu era a senhora do tempo e sorria para Deus, agradecendo-Lhe estar ali, naquele mundo!
Descarreguei o carro num ápice, tinha que fazer umas remodelações num dos quartos para adaptar o meu escritório, nada complicado, por ali tudo era simples! Mas, antes de qualquer coisa ia ver o Paulo, precisava de estar com ele...

Ia cheia de alegria. A chegada à prisão desta vez foi algo natural e o tempo de espera pelo Paulo ia aumentando em mim a minha felicidade por poder estar ali. Quando o Paulo chegou abraçamo-nos como se o mundo tivesse acabado:
- Ó Paulo estou feliz por estar aqui!
- Também eu, saber-te longe fazia aumentar a minha ansiedade, mas estou bem e já comecei a estudar, anda vamo-nos sentar.
- Já trouxe as minhas coisas e muito trabalho, terei que ir a casa com alguma regularidade, há imenso trabalho por lá.
- A sério? Que bom! Mas, olha que vais Ter muito trabalho também por cá...
- Sim? Então?
- Então? Não leste a carta?
- Ah! Sim, li...mas olha que me sinto a naufragar...eu não faço a mínima ideia do que possa fazer...é melhor...
- Não, não é melhor não. O Rafael, o meu advogado vai ajudar-te.
- Ai Meu Deus! E como é que tu queres avançar com essas coisas estando na prisão? Talvez seja melhor aguardar...
- Não! Não posso, são seis anos, mesmo que saia antes, estarei em liberdade condicional, o que “socialmente” também não é grande coisa, mas nada disso me importa; Por isso eu vou passar tudo para teu nome e assim...
- O quê? Não isso não posso permitir.
- Yara! Eu sei o que estou a fazer, tem calma...
- Calma? Tu mal me conheces...
- E tu...conhecias-me no dia que me abriste a porta da tua casa e me convidaste a entrar?
- Mas isso é diferente...
- Não, Yara, é igual, sabes porquê? Porque nada é nosso e tu fizeste-me entender isso muito bem, o que te levou a deixares-me entrar na tua casa?
- Como te hei-de explicar? Foi o teu olhar desamparado, o teu olhar de menino...Se me perguntares o que trazias vestido, não te sei responder, mas os traços do teu olhar ficaram gravados em mim; podemos disfarçar-nos nas roupas que usamos, mas nunca num olhar...
- Pronto, acabas de responder ao porquê da minha intenção de entregar nas tuas mãos a fortuna que a avó Filipa me deixou para eu ajudar os outros...
- Não posso, não posso...
- Yara! Não te estou a comprar, não estejas a pensar isso...
- Está bem, mas dá-me um tempo, é preciso arranjar uma solução, as coisas não podem ser assim...
- Tudo bem, então vais começar a trabalhar não é? E não ficarás um pouco sozinha ali na praia?
- Que ideia, sabes que adoro estar ali, naquele sossego, é tão bom!
- Ainda bem! Sempre que queiras vai conversar com a minha mãe, ela também te adora!
- Sim, também gosto muito dela, irei certamente.
- Ah! Sabes quem veio visitar-me, e falou imenso de ti?
- Quem?
- O António, o padre, ele é meu amigo, andamos na primária juntos..Estava intrigado contigo, mas não disse porquê...não entendi...
Tinha-me esquecido dele...Da pergunta, da Missa no Domingo....
- Yara?
- Ah! Desculpa, esqueci-me do António ...
- Esqueceste? Então?
- Fiquei de aparecer e nunca mais me ocorreu, também não tive muito tempo, tudo aconteceu tão rapidamente...mas, irei visita-lo em breve.
- Vai, ele vai gostar.
Despedimo-nos…Teríamos ainda muita coisa para conversar, mas estava na hora:
- Yara! Vai descansada que eu estou bem!
- Eu vou, e também fico bem! Tem muita força, tá?
- Sim, agora vai!, até breve Yara!
- Adeus Paulo!
Sai da prisão, com uma ideia girando em mim, eu tinha que demover o Paulo daquela ideia de passar os bens para meu nome, e já sabia o que iria fazer…

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