quarta-feira, 18 de agosto de 2010

De regresso a casa...[16]



Na manhã seguinte sai de casa cedo, teria algumas horas de estrada pela frente e queria aproveitar a manhã. Voltava então a casa ao fim de uma semana de umas supostas férias…
Mas, antes de partir fui lá baixo, “despedir-me” do meu mar. Uma despedida que é sempre um até já, um até sempre, pois o mar povoa-me como algo que é meu, que o sinto como meu…

Fiz-me à estrada. Sentia-me leve, perfumada por uma certa paz, embora e por momentos algo me inquietasse. A imagem do Paulo surgia. O coração começava a balancear, e eu dizia - Não! – e levantava o som do rádio,. Assim eu já não podia ouvir se o coração quisesse falar... E deixava-me ir, ia camuflando a verdade que queria aparecer…Depois pensava no pedido do Paulo. Na vontade da avó Filipa e sentia-me perdida e pequenina para tanta coisa. O Paulo achava que eu sabia o que fazer, mas eu não fazia a mínima ideia. Entretanto equacionava as coisas, havia de dizer à minha família o que se estava a passar, ou simplesmente não dizia nada, por mais que tentasse, que me concentrasse não conseguia achar a resposta a estas questões, e não tardava muito chegaria a casa, resolvi parar e fazer um telefonema:
- Mãe! Sou eu.
- Então está tudo bem, nunca mais disseste nada, mas como ias para descansar…
- Ah! Sim está tudo em ordem, é só para avisar que estarei aí daqui a pouco, conta comigo para almoçar
- Ah! Regressas?
- Sim…mais ou menos
- Mais ou menos?
- Depois falamos.
- Estás esquisita, não sei explicar…
- Ai! Deixa-te disso, eu estou bem e ponto. Até já!
- Até já então, vem devagar.
Sorri, mas há alguém que ande devagar?
Aproveitei e fui tomar um café e descontrair um pouco…

Cheguei a casa dos meus pais, já estavam á minha espera, e o cheirinho do almoço no ar... E eu ainda sem saber se ia dizer algo ou não…
Fomos almoçar, comecei então:
- Como dizia ao telefone à mãe, eu vim só para visitar alguns clientes e levar as minhas coisas…
- O quê?
- Pois, resolvi passar uns tempos na casa da praia, adoro acordar e adormecer com o mar e o trabalho á beira-mar é muito mais produtivo, por outro lado apareceu inesperadamente um cliente que me vai dar um trabalho grande e terei que estar por perto.
- Mas, isso é por quanto tempo?
- Não faço a mínima ideia, será o tempo que for necessário…
- Tu não paras mesmo, então e os clientes daqui?
- Está tudo sob controle, tenho uns projectos em meio que irei levar e concluir e também se for necessário a qualquer momento venho cá.
- Vá lá, pensei que fosse outra coisa… - ia dizendo o meu pai.
- Outra coisa, como assim?
- Pensei que ias sair do país, contigo é sempre imprevisível…
- Ahaha! Não, por agora ainda fico, mas hei-de sair um dia se Deus quiser!
- Estás diferente Yara! O teu olhar fala… algo que não consigo compreender. – Avançava a minha mãe –
- Ai! Que ideia! Saio uns dias de casa, tem logo que haver novidades!
- Estás apaixonada Yara?
- Eu? Ó mãe, por favor deixe-se de lamechices! Sei que quer muito um neto, mas desista, esses não são os meus planos!
- Sempre a mesma conversa, todas as raparigas da tua idade já têm os filhos grandes e tu não te entusiasmas…
- Ó mãe, por favor, família só complica, assim sozinha posso mudar o rumo da minha vida a qualquer momento. Gosto de viver assim, sem amarras, hoje estou aqui, amanhã estou na casa da praia e no outro dia estou num sítio qualquer…
- Que hei-de dizer, vai e sê feliz!
- Bom, agora vou até casa arrumar tudo, e aproveitar para marcar com uns clientes, se possível para amanhã, penso partir no dia seguinte.
- Tão rápido?
- Partirei quando tiver tudo organizado!
- Não sei porquê, mas acho que estás a esconder algo, mas deixa para lá…
- Pronto, virei jantar para vos compensar, mas agora tenho que ir.

Voltei à minha casa, abri as janelas e deixei entrar o sol, ali estava tudo como o havia deixado. Liguei o computador, emails de clientes, não me apeteceu abrir, liguei o telemóvel de serviço, chamadas e mais chamadas perdidas, e eu que avisei toda a gente que ia de férias, não adianta… Não me apetecia, mas tinha que ser. Comecei a falar com os clientes, marquei algumas reuniões, tudo voltava a andar, e eu estava ali, mas não me sentia ali...

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