segunda-feira, 2 de agosto de 2010

As cartas...[6]


Preparava-me para deixar a igreja, mas de repente e por impulso coloquei a mão no bolso do casaco... A carta. Eu não tinha dado a carta à mãe do Paulo, não era possível.  Tinha que correr, não sabia quanto tempo se havia passado, e como iria agora descobrir a mãe do Paulo? Perguntas para as quais não tinha resposta. 
Dirigi-me em passo muito apressado para a saída da igreja, mas antes que tivesse alcançado a porta, esbarrei com um senhor, e foram livros e folhas e mais folhinhas tudo espalhado no chão. Pedi-lhe desculpa.  Um a um apanhei tudo e voltei a colocar-lhe na mão:
- Peço desculpa, sou uma desastrada.
- Mas, ainda estás aqui?
Eu já não percebia nada…
- Conhecemo-nos? Chamo-me Yara.
- E eu António
- Prazer, mas não me lembro de antes nos termos cruzado. E agora desculpe que tenho um assunto gravíssimo para resolver, até um dia!
- Espera!
Voltei a parar, parece que quanto mais pressa, mais coisas me faziam perder tempo.
- Tu estavas na Missa ao lado da Dª Maria.
- Sim, estava, e?
- Não me viste?
- Não…
- Pois, reparei que não tiraste nem um segundo os teus olhos da Cruz.
- Estava a meu lado?
- Não, mas na tua frente, eu fui o padre que celebrei a Missa.
- Ah! Desculp,eu não reparei. Mas, conhece a Dª Maria?
- Sim, muito bem. Porquê?
- Pode conduzir-me a casa dela?
- Sim, com todo o gosto, mas que se passa?
- Explico-lhe pelo caminho, agora temos que ir antes que seja tarde.
E fomos.  Pelo caminho expliquei tudo e quando paramos à porta da casa do Paulo, Maria preparava-se para partir. Corri para ela e estendi-lhe a carta;
- Maria, desculpe, há bocado esqueci-me deste assunto, o Paulo pediu-me para lhe entregar esta carta.
- Obrigado, filha! Vou agora abraçar o meu Paulo. Ah! O meu marido quer falar contigo, onde te pode encontrar?
- Na praia. Depois da aldeia dos pescadores é a primeira casa, uma que está isolada, amarela, ele que vá ter comigo, possivelmente estarei lá. Força para si.
- Estou feliz, muito feliz querida, apesar de o meu marido não estar a lidar bem com a situação, mas ele há-de cair em si.
Despedimo-nos e voltei para o carro do padre António, apetecia-me andar a pé, mas seria uma falta de educação não ir com ele de volta, e fomos. Pelo caminho explicou-me que o pai do Paulo era um afamado advogado da praça e que com estas confusões do Paulo, o seu nome ficou beliscado, mas depois da “morte” do Paulo tudo tinha serenado, por isso entendia muito bem as palavras da Maria. Cheirou-me a confusão, mas nada disse, apetecia-me mesmo estar sozinha, por isso assim que me vi fora do carro, despedi-me:
- Padre António, agradeço-lhe por tudo, mas agora tenho mesmo que ir, já deixei tanta coisa para trás, havemos de nos voltar a encontrar!
- Vem ao Domingo á Missa.
Missa? Interroguei-me…
- Ah! Depois vejo. Mais uma vez obrigado!

De volta ao meu carro, pensei em ir para casa, mas não, a casa estaria certamente cheia do Paulo, precisava estar mais forte para voltar.
E fui andando sem rumo, estava cansada e nem conseguia pensar em nada; mas de repente travei, a carta, a minha carta? Procurei-a no outro bolso do casaco e lá estava dobrada. Passei-a de mão em mão, olhei-a de todos os ângulos, como que tentando adivinhar as palavras que ali dançavam. O que o Paulo me queria dizer que eu ainda não tivesse visto ou sentido?
A Carta voltou para o bolso, não era o sítio, nem o momento...

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