quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Yara pescadora! [9]


Mais uma vez acordei cedo. O sol ia rompendo o nevoeiro e eu deixei-me ficar sentindo o tempo passar sem pressa, parece que tudo voltava a andar lentamente, excepto o meu mar que se agitava e me acalmava entre uma vaga e outra…


Finalmente consegui desfazer as malas, arrumar tudo e saber o sítio das coisas. Preparava-me para sair quando tocou o telemóvel:

- Yara!
Reconheci de imediato o número e a voz…
- Sim, Paulo, como estás? Dentro de alguns minutos conto estar aí!
- Não, não venhas.
- Então? Que se passa?
- Deixa acalmar as coisas, deixa esta gente esquecer um pouco o assunto, depois de amanhã vou a julgamento e só depois saberei quanto tempo vou ficar por aqui.
- Ah! Compreendo…
- O meu pai vai querer pagar a caução, mas eu não quero.
- Então?
- O meu pai pensa que resolve tudo, e compra todos com a porcaria do dinheiro dele, mas eu não quero, ficarei aqui o tempo que o juiz deliberar. Ah! Tem cuidado com o Dr. Álvaro…
- Não preciso
- Precisas sim, tu não o conheces, ele trata todos como se fossem lixo…
- Não te preocupes, mas diz-me estás mesmo bem, dentro das condicionantes?
- Sim estou, pensei que isto fosse pior; Já leste a minha carta?
- Já li, obrigado pelas tuas palavras, entendeste-me na perfeição. Também te quero muito bem, mas sem correntes…
- Eu sei!
- Olha, não entendi o que eu posso ter a ver com a medicina, acredita que isso me deixou intrigada…
- Eu imaginei, podes não ter a ver com medicina, mas terás certamente a ver com o coração, explico-te tudo numa outra carta que a minha mãe te entregará, não dá para estar a falar ao telefone e não sei quando poderás cá vir, mas por favor, não venhas sem eu dizer, tá?
- Tudo bem, farei como tu disseres. Tem juízo!
- Tenho, está descansada e aproveita para descansar! Agora tenho que desligar, está a acabar-se o dinheiro no cartão…
- Adeus, até outro dia!!
- Adeus Yara, e obrigado!

Desde que cheguei, os planos eram sempre alterados, por isso não faria mais planos, viveria um dia de cada vez, sem me impor, sem esperar nada, apenas deixando as coisas acontecer.

Saí, levando a lembrança que tinha trazido para a Dª Esmeralda e para o Sr. José, iria a pé, assim aproveitava para caminhar um pouco...
Adoro a praia no Inverno, quando fica sem ninguém, apenas o mar, a areia e eu. Caminhando sozinha sobre a areia sentia-me a imperadora daqueles caminhos sem fim, onde não havia nada, e ao mesmo tempo tudo...

Ainda estava distante da aldeia dos pescadores e já vejo a Dª Esmeralda de braços no ar a chamar por mim:

- Yara, Yara! Até que enfim menina!
Eu acenei-lhe também e apressei o passo. Quando cheguei já tinha dois braços abrtos à minha espera:
- Querida! Há tanto tempo que não te via, e os paizinhos estão bons?
- Sim, está tudo bem!
- Ai, filha, não fiques ali sozinha, vem até aqui ao pé de nós mais amiúde.
- Virei, Dª Esmeralda, mas tenho os meus trabalhos para fazer e para isso preciso de estar sozinha, compreende?
- Pois, eu sei, filha, mas custa-me que estejas ali isolada e sozinha.
- Não se preocupe, quando me sentir só, eu virei até aqui.
- Bom, vou pôr mais um prato na mesa, almoças connosco!
E adiantava dizer que não?
- Claro que sim, com todo o gosto!

O almoço foi um divertimento, a recordar tempos passados. Sentia-me bem com aquela gente tão simples quanto eu, mas, era hora de partir, não sem antes fazer um pedido ao Sr. José:

- Amigo, queria pedir-lhe uma coisa…
- Então Yara? Tudo o que tu quiseres!
- Agora que já sou crescida, já me pode levar à pesca, que acha?
Mas, logo a Dª Esmeralda interveio:
- Ai, filha, deixa-te disso, a pesca é para os homens e homens de barba rija.
- Ò mulher, desde pequenina que a Yara quer ir à pesca, conta com isso, queres ir já amanhã?
- Fala a sério? Quero pois!
- Então está descansada que ainda hoje deixo na tua casa o teu equipamento, aproveita para descansares porque partiremos noite dentro!
- Ai! Meu Deus ajude esta gente que não sabem o que fazem, onde é que já se viu, mulher ir para a pesca!
- Esteja descansada Dª Esmeralda, vai correr tudo bem!

Deixei a casa saltitante de alegria, era pequenina e almejava um dia ir à pesca, e parece que esse dia estava a chegar!

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