terça-feira, 17 de agosto de 2010

A avó Filipa...[15]




Sai da prisão serenada. O Paulo estava bem. Encheu-me de força e o futuro parecia desenhar-se não tão longínquo como parecia. No entanto, o meu coração balançava, sentia-o balançar, hesitar, queria entregar-se, mas eu seria mais forte e nunca esqueceria o quanto o amor já me fez sofrer, o quanto as alvoradas de luz e cor se encheram depois em noites de escuridão, de dor e sofrimento, eu ia ser forte…
Mas outro sentimento me dominava, sentia uma forte curiosidade de saber o que de tão importante o Paulo me queria “entregar”, por isso nem esperei até chegar a casa. O sol ia tombando e o céu deslumbrante pintado de tons alaranjados, convidaram-me a parar e de imediato peguei nas folhas que o Paulo me tinha entregue, e comecei a ler:
Querida Yara,

Mais uma vez obrigado por tudo. Acabamos todos há pouco minutos de ouvir a minha sentença – seis anos… - que te prometo desde já que não irei cumprir, pois irei ter um comportamento exemplar haja o que houver…mas o meu pai explicar-te-á tudo isso…
Temos que começar a trabalhar já.
A minha avó Filipa, mãe da minha mãe, foi uma guerreira a vida inteira, eles herdaram de seus pais uma grande fortuna. O meu avó Rodrigo só pensava em ter mais e mais, e não se preocupava com nada nem com ninguém, mas a minha avó sempre ajudou os outros, ela levava-me muita vez a um orfanato de crianças, onde ela para além de trabalhar como voluntária (ás escondidas do meu avó), contribuía monetariamente, também às escondidas. Ela ensinou-me desde cedo a valorizar as coisas e a preocupar-me com os que nada tinham, eu convivi muito com essas crianças órfãs, ou tiradas aos pais por maus-tratos, fiz lá amigos que ainda os conservo até hoje. O meu avó morreu quando eu tinha 19 anos, então a minha avó colocou em meu nome vários prédios que ela possui na cidade (depois explico-te quais são), esses prédios seriam para criar algo, tipo uma fundação de ajuda a crianças, mães solteiras em dificuldades e idosos, as palavras da avó Filipa foram: “Paulo, podes ajudar muita gente e dar emprego a tantos que precisam…”, nunca as esquecerei e este foi um dos motivos que fez com que eu vivesse, quando cometi as loucuras dos assaltos, eu ficava sempre a ouvir a avó Filipa com estas palavras… Entretanto, deixou-me também dinheiro, bastante, no qual eu nunca toquei até hoje, aquele dinheiro seria para a obra.
Em linhas gerais é isto, sozinho não sei por onde começar, mas tu saberás certamente, não sei porquê, mas em ti vejo um pouco da avó Filipa.
Pensa em tudo isto, com calma, sei que há muito trabalho para fazer, mas tudo começa do nada, conto contigo Yara! Na altura o Dr.Álvaro exasperou-se com esta situação, tantos trocos que ele não pode juntar à sua extensa fortuna, mas a avó Filipa tomou as suas decisões em vida por isso não havia nada a fazer. Embora hoje ele esteja diferente. No entanto nada disso me preocupa!
Quanto aos meus planos como médico, hei-de contar-tos, mas claro que esses não são para já, no entanto estarão sempre ligados á vontade da avó Filipa, pois foi através dela que descobri que queria ser médico, mas isso fica para outro dia, agora já terás muito em que pensar.

Adoro-te!

Paulo Albuquerque


Eu sorri para o Paulo e para a avó Filipa e fiquei feliz, não sabia muito bem o que havia a fazer, mas eu iria descobrir!

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