quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Correspondência...[11]



Dirigi-me para casa; vinha perfumada do meu mar, inundada por ele e nem o cheiro a peixe me fazia deixar de andar nas nuvens. Sentia-me tão bem, tão leve... A experiência com os pescadores tinha sido algo que me preencheu inteiramente. Adoro aquela gente simples, mas ao mesmo tão grande!

Abri a porta de casa e três envelopes por debaixo da porta fizeram-me parar…Correspondência? Não tinham remetente e cada envelope tinha sua caligrafia e diziam apenas: YARA.
Voltei para o alpendre, estáva curiosa, e toda suja da pesca, por isso leria ali as misteriosas cartas...Abri uma que dizia:
"Querida Yara,
passei por aqui, estive no teu alpendre esperando-te, mas, fez-se tarde e tive que ir.
Vinha para te fazer uma pergunta, por isso deixo-a aqui e depois procura-me para me responderes:
Diz-me por favor porque naquele dia na missa não tiraste os teus olhos da Cruz?
Senti um forte relacionamento com Ele, no entanto achei que não costumas ir à Missa, enganei-me?
Perdoa-me ter-te vindo incomodar, mas a tua fixação na Cruz inquietou-me.
Do teu Amigo António

Continuei para a próxima:

“ Yara,
Sou o pai do Paulo, vinha falar contigo, mas não estavas. Esperei-te ainda um longo tempo no teu agradável alpendre;.
Desde aquele dia que estive aqui não consegui deixar de pensar em ti e nas tuas poucas e tão profundas palavras. Foram essas palavras que hoje me fizeram voltar, pois elas não mais me deixaram – “És feliz?” –“ quanto ao cheque, se te sobra, vai dá-lo aos pobres, e pelo menos uma vez na vida faz algo a pensar nos outros e não em ti e no teu dinheiro.”
Yara, quero ser feliz amiga. Perdoa-me pelas palavras que te dirigi. Voltarei.

Abraço,
Álvaro
Eu nem estava em mim com o que acabava de ler, mas continuei para a 3ª carta:

“Yara, minha filha,
Queria tanto falar contigo, amanhã é o julgamento do Paulo, vai ser terrível, conto contigo, estarás lá, sim? Discretamente, como tu queiras, mas vai, mesmo que o Paulo te peça para não ires, vai filha, eu te peço."

Maria
Claro que eu iria ao julgamento não o ia perder por nada. O Paulo nem disse para eu ir, nem para eu não ir.
Tanta coisa se tinha passado, tanta gente que queria falar comigo. De repente saltei da cadeira, eu tinha estado fora o dia inteiro, talvez o Paulo tivesse tentado comunicar-se comigo. Entrei a correr e fui ao telemóvel, várias chamadas, e uma mensagem:

- Yara, não estás em casa, ou talvez estejas a descansar, não te preocupes, está tudo bem. E eu estou pronto para o julgamento, será amanhã às 9 horas. Nem te peço para vires ou para não vires, deixo isso nas tuas mãos, tu sabes o que será melhor, reza por mim amiga, não peças nada, apenas que eu seja forte. Um beijo

Lá estarei amigo!
Era preciso voltar á realidade…

Sem comentários:

Enviar um comentário