sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A sentença...[12]





Depois de um dia maravilhoso, cheio de alegria e bem-estar, a noite carregava-se de negro, e até de algum medo, provocado pela incessante trovoada.  O clarão dos relâmpagos reflectidos no mar também em fúria, uma noite enorme que não tinha fim.
Não consegui sequer deitar-me. Ficava vagueando de um lado para o outro, queria entender-me, sem o conseguir. O meu coração batia tão forte, que eu achava que ele ia sair do meu peito. Tentava pensar positivo, que o Paulo estaria a caminhar para definir a sua vida e sim, ela passava pela prisão, mas quanto tempo? E mais um relâmpago e um trovão e outro e outro; acabou por faltar a luz, mas eu não tinha frio, sentia-me gelada por dentro e sufocada por fora. Queria que amanhecesse rápido, e que tudo se resolvesse rapidamente, mas, outras vezes queria prolongar o tempo…

De repente parei e interroguei-me - que se passa Yara? Ainda a semana passada não conhecias o Paulo. Como pode uma pessoa entrar na tua vida e mudar o sítio das coisas? – Fiquei muito tempo, sentada a pensar nesta minha interrogação, tanto tempo que quando “voltei” a trovoada tinha finalmente cessado, a luz voltado e a manhã anunciava-se.


A manhã surgira enevoada, mas o sol mostrou-se um pouco, embora envergonhado. O edifício imponente do tribunal, metia respeito. Os olhares dos presentes trocavam "mensagens" de cumplicidade e de ansiedade, alguns tinham, ainda, sinais vincados que não disfarçavam uma noite sem dormir, entre os quais eu estava incluída. Havia imensa gente e muita comunicação social, eu fiquei num canto, seria mais um dos curiosos, uma pessoa anónima no meio da multidão que se ia juntando. O meu coração voltava a bater fortemente. Eu ia tentando acalmar-me, sem o conseguir…

Nove horas. Abre-se a sala de audiências: ministério público, advogados, testemunhas e curiosos, tomam agora os seus lugares contornando os fios das máquinas de filmar e dos microfones da comunicação social. Ao fundo da sala vê-se uma imagem de mulher que tem nas mãos uma balança e nos olhos uma venda. Todos percebem, por certo, que se trata da imagem da "Justiça".
Levantem-se!!! Alguém disse.
Entra o juiz, homem na casa do 50, olhar sereno e penetrante que transmite uma mistura de autoridade e medo.

E o julgamento tem inicio. Um silêncio perturbador preenche aquela sala, até que o Ministério Público inicia a acusação, interroga o Paulo e o seu advogado, que face à evidência das provas, limita-se a pedir justiça.

Sentia-me transpirar. As minhas mãos tremiam, e o meu coração batia descompassadamente. Quanto tempo? Quanto? Era essa a pergunta que se abeirava de todos nós. E o Paulo, como estaria? “Não tenho medo”, parece que estava a ouvi-lo dizer estas palavras…

A Expectativa era muito, não tarda e a sentença condenatória ditará o futuro imediato do Paulo.




O juiz levanta-se e, acto contínuo, começa a ler a sentença onde constam os factos provados e não provados. O ambiente é agora tenso, cabisbaixo, o Paulo manifesta um profundo arrependimento que parece "contagiar" o Juiz e os presentes.
Lá fora começa a chover a "cântaros" e os primeiros trovões e relâmpagos parecem trazer à memória dos presentes os mistérios da fé e da justiça dos homens.
O juiz, sem se deter, termina a leitura da sentença com algum embargo na voz: «este tribunal condena o arguido, Paulo Albuquerque, em cúmulo jurídico, na pena de seis anos de prisão efectiva pela prática, em associação criminosa, de vários crimes contra o património».
Um silêncio "gelado" "prende" os presentes aos bancos de madeira de pinho, que só é interrompido pelas palavras do Juiz: Terminou a sessão!

Eu não estava em mim…seis anos? Tanto tempo? Não era possível…
Lá fora a chuva continua a cair torrencialmente e eu chorava, como há muito, muito tempo não o fazia.
Agora Paulo é a figura alvo, fitada por todos. A comunicação social cerca-o na expectativa de lhe "arrancar" algumas palavras. Engano!!! Do Paulo, nem uma única palavra…Mas um olhar, sim o Paulo olhou-me e sorriu, um leve sorriso, como que agradecendo-me de eu estar ali. No meio de tanta gente, o Paulo viu-me e eu senti o seu olhar. Apeteceu-me correr para junto dele e abraça-lo e dizer-lhe que não está só, mas, encaminhei-me para a saída.



Quando sai do tribunal não me dirigi ao carro, mas fui andando pela rua, deixando-me molhar pela chuva que não parava. Estava muito triste, seis anos era muito tempo, será que o Paulo ia aguentar?

2 comentários:

  1. Meus Amigos,
    Com este texto da SENTENÇA, despeço-me por uns dias, prometo voltar em breve, para continuarmos a história de YARA. Conto convosco.
    Abraços e beijos

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  2. hummmmmmmm tb estos triste, senti-me, la naquele tribunal a sentrir a pesada sentença.....

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