terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dr.Àlvaro ... [7]

Continuei dirigindo sem direcção ainda durante alguns quilómetros, mas resolvi parar. Entrei num café e pedi algo simples para comer-Rreparei na televisão do outro lado do café e uma frase que me chamou a atenção – Paulo de Albuquerque afinal está vivo – era o Paulo. Reconheci Maria e uma grande confusão em torno de tudo. Voltei a sair. Fui fazer umas compras, pois não tinha praticamente nada em casa. Sentia-me cansada, precisava mesmo de voltar para casa e descansar.
Chegada a casa, deixei as comprar no alpendre e antes de entrar, desci até ao mar…



O Sol ia caminhando para o ocaso, lentamente sem pressa. As nuvens ameaçavam chuva, e o mar majestoso, sempre igual e sempre novo, ali só para mim. Sentei-me na areia molhada e deixei-me ficar, precisava de me acalmar, de ganhar forças para abrir a porta de casa. Mas, de repente:

- Tu é que és a amiga do Paulo?
Assustei-me e virei-me repentinamente:
- E tu quem és?

Um homem dos seus sessenta e tal anos de barba e óculos, de fato e gravata. Soube de imediato quem seria…
- Eu sou o Dr. Álvaro de Albuquerque, pai do Paulo.
Já tinha estragado tudo, detesto quando as pessoas se apresentam colocando o título atrás, ele continuou a tratar-me por tu e eu também, indiferente ao Dr.:
- Muito prazer em conhecer-te, o Paulo tinha-me dito que eras advogado.
- E tu, como te chamas?
- Yara…
- E qual é o teu sobrenome, e o teu título?
- Chamo-me Yara, isso chega para todas as pessoas que me conhecem, para ti não chega?
- Já estou a ver tudo, tu és mais uma das amiguinhas do Paulo, que sempre fizeram tudo para lhe extorquir dinheiro e ainda o arrastaram para a situação em que ele se encontra.
- Eu?
- Sim, tu, não te faças de santinha, enganaste a minha mulher, mas a mim não me enganas, és uma cabra igual a todas as outras.
- Desculpa, estás a ofender-me.
- Tu é que me ofendes, fazendo-te amiga do Paulo, vocês estragaram-lhe a vida, só pensam em dinheiro. Eu tenho um império. Metade da cidade é minha. Sou alguém muito importante, embora esta história me tenha afectado um pouco, ainda mantenho o meu bom nome na praça; se bem que era preferível o Paulo estar morto. O aparecimento dele veio estragar tudo, as coisas já estavam esquecidas e agora novamente isto
- O quê?
- Vim aqui para te dizer que te quero longe do Paulo, nem penses em andar de volta dele e depois quando ele sair o velho conto de fadas “viveram felizes para sempre”. Quero-te longe, aqui tens um cheque, afasta-te, podes dar a volta ao mundo, faz o que quiseres, mas não te quero por perto.

Eu estava perplexa, abismada e quase a entrar em fúria, mas respondi-lhe com uma pergunta:
- És feliz?
Finalmente calou-se, aquele homem só sabia falar, não ouvia ninguém, era dono do mundo e da verdade, mas a resposta não vinha, por isso continuei:
- Não precisas responder, já sei a resposta. Quanto ao cheque, se te sobra, vai dá-lo aos pobres, e pelo menos uma vez na vida faz algo a pensar nos outros e não em ti e no teu dinheiro. Quanto à minha vida, sei muito bem cuidar dela, obrigado! Agora desculpa, mas tenho que ir.
- Espera, posso voltar?
- Podes voltar as vezes que quiseres, a praia é pública.
- Não entendeste, gostava de voltar a falar contigo, vou pensar na pergunta que me fizeste, nunca ninguém me fez…

Eu tinha conseguido desarmar o coração do “Imperador”, do senhor que manda em todos? Eu não estava a acreditar…
- Podes voltar, se eu estiver disponível, quem sabe!?

2 comentários:

  1. engraçado, uma vez eu fiz exctamente a mesma pergunta a um sr de 60 anos, porque tb me estava a "atacar" e ele tb não me respondeu...!!
    e eu tb lhe disse que sabia a resposta...!!!!
    "ES FELIZ"?

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  2. Pois, é Eli... As pessoas que pensam dominar o mundo, raramente são felizes. E a sua agressividade e prepotência sobre os outros é apenas o sinal da sua frustração...É quase sempre assim...

    Obrigado por estares a acompanhar ^-^

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